24/12/2008

RELAÇÃO MUSEU / PÚBLICO

Finalmente um museu onde a gente não precisa fingir que ta se divertindo.

Vou começar este texto contando para vocês o que acontece quando se entra numa idéia do Fabiano: você fica encarregado de alguma tarefa que acha interessantíssima, mas não tem a menor idéia de por onde começar. Foi desta forma que fiquei encarregado de escrever alguma coisa para este blog, e como bom museólogo que pretendo um dia ser, refleti sobre isso lendo minhas antigas revistas em quadrinhos, o que explica a demora para este texto sair.

Então as musas me iluminaram, e fez-se o verbo: percebo a edição nº. 6 da revista Wizard do ano de 1997, que é um guia da nona arte e de todas as outras coisas nerds que se possa imaginar. Em fim, a razão por estar comentando dos meus vícios, é porque exatamente nesta edição, entre um texto ensinando a fazer a fantasia do Spawn e um possível elenco para um filme do Star trek, está a notícia do primeiro museu de história em quadrinhos do mundo: o International Museum of Cartoon Art (IMCA), localizado em Boca Raton Flórida, EUA. Este museu foi idéia de Mort Walker criador do recruta Zero (aquele soldado engraçado que era a única coisa que você entendia no jornal do seu pai).

Além de receber recursos de empresas interessadas no empreendimento, a instituição contou também com a arrecadação da própria comunidade que viu na iniciativa uma oportunidade ímpar de levar para os seus arredores uma parcela dos turistas interessados em praias e na Disney. E para quem pensa que quadrinhos é coisa de criança, a maioria dos empregados do museu são voluntários com mais de cinqüenta anos! Isso sim é gostar de museu - ou de quadrinhos.

No início do texto é comemorado que as histórias em quadrinhos finalmente receberam o estatuto de arte, e o marco para isso seria a criação deste museu. Mas no final da reportagem, vem talvez a parte mais interessante de toda a matéria. Trata-se de uma charge com a imagem de um típico nerd de quarenta anos de idade, virgem (não existe nada na imagem mencionando isto, mas eu gosto de tratá-los assim) com a camisa do museu. Em sua face estampando um livre e sincero sorriso; sobre sua cabeça, um balão de pensamento com a seguinte inscrição: “Finalmente um museu onde a gente não precisa fingir que ta se divertindo”. Pensei em quantas crianças devem pensar exatamente a mesma coisa quando visita um museu cheio de pinturas chatíssimas que só irão entender o seu significado anos adiante, quando tudo o que queriam é estar lendo aventuras da Liga da justiça, um mangá do Katsuhiro Otomo, assistindo ao Chaves ou ao Pica pau. Meu olho derramou uma lágrima. E vi que algo precisava ser feito. Sentei em frente ao meu computador e só de raiva fiz tudo o que um nerd poderia fazer para mudar o mundo: download do último quadrinho do Batman.

A reportagem traz à tona uma série de notáveis desafios que o museólogo deve encontrar: como tornar um assunto sério em algo que não seja enfadonho? Como tratar o museu que ao mesmo tempo é um lugar de entretenimento e de reflexão cultural sem cair no pedantismo pseudo-cult ou no espetáculo da alienação? Talvez por ser um museu que trate de história em quadrinhos, um museólogo teria que se esforçar muito para torná-lo chato, e a mesma dose de esforço para não torna-lo um espetáculo da modernidade. Nisso o museu não falha, as salas com computadores são tão visitadas quanto as exposições temáticas envolvendo quadrinhos, desenhos animados ou peças de arte com personagens do mundo inteiro. O museu é representado nesta frase como um local de entretenimento cultural.

Quando os quadrinhos passam a ser a parte fundamental do reserva técnica de um museu, eles deixam de ocupar o espaço periférico da criação literária mundial, e não interessa se a revista possui a seriedade de um tema que aborde o Holocausto ou a irreverência de um anti-herói, ela reflete a produção literária de seu tempo, e o museu quando reconhece esta importância, molha seu acervo com este poder (nossa pareci o Mário Chagas agora).

A propósito da gracinha sobre meu nome no texto introdutório, queria enfatizar que não achei a menor graça.


Ainda sob inspiração das musas dos quadrinhos (Druna e Mulher Maravilha), forcei minha curiosidade intelectual a procurar por mais alguns museus de histórias em quadrinhos pelo mundo. E achei um aqui no Brasil! Seguem as referência:

http://www.millarch.org/artigo/museus-dos-quadrinhos

Site do IMCA:

http://www.universohq.com/quadrinhos/2008/n20052008_04.cfm

Site oficial da Wizard:

http://www.wizarduniverse.com/

AGENDA CULTURAL

Para aqueles que não sabem o que está acontecendo no mundo dos museus ou que não sabem o que fazer no seu tempo de ócio, o MUSEOLOGANDO informa a agenda de exposições, eventos e programas que acreditamos serem divertidos. Portando, desliguem o computador e vão ver uma exposição. Aproveitem.

• Hélio Oiticica: penetráveis.
Até 21 de junho
Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica: Rua Luís de Camões 68, Centro – 2232-4213. Ter a Sex, das 11h às 17h.

• Totoma! Dez anos de funk.
Até 14 de fevereiro
Galeria do Ateliê: Av. Pasteur 453, Urca – 2541-3314.
Seg a Sex, das 10h às 21:30m. Sáb, das 10h às 17:30m.

• Don Qui – O Quixote de Matta.
Até 30 de janeiro
Academia Brasileira de Letras. Galeria Manuel Bandeira. Av. Presidente Wilson 203, Centro – 3974-2500. Seg a Sex, das 10h às 18h.

• Exposição H2O: o futuro das águas.
Até 22 de março
Arte Sesc. Rua Marquês de Abrantes 99, Flamengo – 3138-1343.
Ter a Sáb, das 12h às 20h. Dom, das 11h às 17h.

• O barroco no popular e o popular no barroco.
Até 1° de fevereiro
Caixa Cultural – Unidade Barroso. Av. Almirante Barroso25, Centro –
2544-7666. Ter a Sáb, das 10h às 22h. Dom, das 10h às 21h.

• Chá no Saara.
Até 25 de janeiro
Caixa Cultural – Unidade Barroso. Av. Almirante Barroso25, Centro –
2544-7666. Ter a Sáb, das 10h às 22h. Dom, das 10h às 21h.

• Ventos fortes: 50 anos do teatro oficina.
Até 25 de janeiro
Centro Cultural Correios. Rua Visconde de Itaboraí 20, Centro – 2253-1580
Ter a Dom, das 12h às 19h.

• Constituição de 1988: a voz e a letra do cidadão.
Museu da República 153, Catete - 3235-2650
Ter a Sex, das 12h às 17h. Sáb, Dom, das 14h às 18h

• Direitos Humanos – A declaração da vida.
Até 15 de fevereiro
Centro Cultural da Justiça Eleitoral. Rua 1° de Março 42, Centro – 2253-7566.
Qua a Dom, das 12h às 19h


• Arles nos tempos de Van Gogh.
Até 25 de janeiro
Centro Cultural Justiça Federal. Av. Rio Branco 241 – Centro3261-2550.
Ter a Dom, das 12h às 19h.

• Segall realista.
Até 8 de fevereiro
Instituto Moreira Salles. Rua Marquês de São Vicente 476, Gávea – 3284-7400.
Ter a Dom, das 13h ás 20h.

• Corpo humano – Real e fascinante.
Até 1° de fevereiro
Museu Histórico Nacional. Praça Marechal Âncora s/n°, Centro – 2550-9220.
Ter a Dom, das 9h ás 18h.

• Roberto Burle Marx 100 anos – a permanência do instável.
Até 22 de março
Paço Imperial. Praça Quinze de Novembro 48, Centro – 2533-4407
Ter a Dom, das 12h às 18h.