The New York Times | 23/03/2013 08:00:31
The New York Times
Parte do Museu de Arte Contemporânea de Xangai
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Depois de anos de atividade, a construção e expansão de museus nos Estados Unidos diminuiu por causa da crise econômica. Na Europa, onde a situação financeira é ainda pior, veneráveis instituições financiadas pelo Estado chegam a implorar por dinheiro.
Na China, por outro lado, a situação é outra.
A construção de Museus - grandes, pequenos, apoiados pelo governo, financiados por instituições particulares - está em alta. Em 2011, cerca de 390 novos museus foram construídos. E os números continuam em alta. A China está abrindo museus em uma escala surreal.
Muitos possuem um propósito multifuncional, misturando história, etnografia, ciência, política, arte e entretenimento. O museu dedicado apenas à arte é um conceito relativamente novo na China. Os modelos para isso, a maioria deles ocidentais, ainda estão sendo analisados, no entanto, tendem a alinhar-se em ambas as extremidades do espectro temporal, incidindo ou sobre o moderno ou o muito antigo.
Até recentemente, os museus de arte contemporânea na China eram administrados privadamente, seja por uma empresa ou por colecionadores ricos. Em outubro de 2012, um importante precedente foi criado com a abertura do Museu de Arte Contemporânea de Xangai, o primeiro museu do país de arte moderna financiado pelo governo.
Se o reconhecimento oficial da importância da estatura internacional da arte chinesa demorou para acontecer, quando aconteceu, sua chegada foi bastante ousada. O museu de Xangai, popularmente conhecido como a Usina Elétrica da Arte – se encontra em uma usina de energia convertida do século 19 - é fisicamente espetacular. Ele abriu com um apelo global importante na forma da Nona Bienal de Xangai.
A Bienal fechará no dia 31 de março. Enquanto isso, cerca de 2,575 quilômetros ao oeste de Xangai, na cidade oásis de Dunhuang na borda do deserto de Gobi, um outro museu, ou algo parecido com um museu, muito menos convencional do que a usina de energia, está sendo construído. Seu objetivo não é atrair multidões a nova arte, mas para mantê-los longe do contato nocivo com a arte antiga, especificamente as antigas pinturas de murais budistas que cobrem os interiores de centenas de cavernas na região de Dunhuang.
Apesar de suas diferenças, os museus de Xangai e Dunhuang compartilham de uma qualidade típica de novas instituições culturais da China: ambição. Muitas vezes, esta é simplesmente medida em relação a seu tamanho.
Quando o renovado Museu Nacional da China foi inaugurado em Pequim, em 2011, um dos principais atrativos foi o fato de ser o maior museu de qualquer tipo no mundo, apesar da história que contava da China ter sido fragmentada.
A preferência pelo gigantismo ficou evidente novamente em Xangai no ano passado. No mesmo dia da inauguração do museu na usina elétrica , um segundo museu do Estado também foi inaugurado em Xangai, o Museu da Arte da China, às vezes chamado de o Palácio da Arte Chinesa. Dedicado em grande parte ao modernismo chinês do século 20, e alojado em uma estrutura originalmente erguida para a Exposição Mundial de 2010, que anunciava-se como o maior museu de arte moderna no país. E de fato o é, embora qualquer um pudesse ver que sua coleção exaustiva se beneficiaria de uma séria edição.
Mas os dois museus estaduais de Xangai são apenas a ponta do novo iceberg artístico da cidade, com inúmeras instituições menores sendo inauguradas para compensar na falta de tamanho. A maioria dos museus mais pequenos são de propriedade privada. Pelo menos dois, o Museu de Arte de Minsheng e o Museu de Arte de Rockbund, possuem reputações sólidas.
Ao levar em consideração o valor da nova arte na China, e o fato de que o país tem, segundo a Forbes, o maior número de bilionários do mundo, a perspectiva de novos museus privados parece interminável. Como esses museus vão se estabelecer no entanto, ainda não se sabe. Construir estruturas é uma coisa; reunir obras significativas é outra.
Muitas coleções particulares hoje são simplesmente produtos ditados pelo mercado global: os mesmos três populares artistas chineses, artistas europeus populares, e assim por diante. Mas, embora museus para tais coleções estejam proliferando, a China ainda não possui nenhuma oferta de um museu como uma visão histórica abrangente da arte contemporânea do país ao longo dos últimos 30 anos. E os recursos que são subestimados em museus em outros lugares - como bolsa de estudos, campanhas educacionais, perspectivas curatoriais globais - estão ausentes ou em estágio inicial em muitas das instituições chinesas de nova arte.
Sem supervisão administrativa experiente, como será possível prevenir com que futuros museus patrocinados pelo Estado de arte moderna - e certamente haverão mais - de seguirem o caminho de que quanto maior melhor? O que poderá evitar com que museus privados sejam glorificados como instalações de armazenamento - lugares para que os colecionadores guardem sua arte, sem um propósito maior do que apenas ostentar o poder pessoal através da acumulação de material?
Um objetivo maior é precisamente o que o projeto de Dunhuang possui a seu favor. Ou talvez até mesmo objetivos maiores como preservar o passado, mas também, simbolicamente, corrigir os erros do passado.
Cavernas budistas podem ser encontradas em diversos locais ao redor de Dunhuang, mas a grande maioria, cerca de 700, estão esculpidas em rochedos em um lugar chamado Mogao há vários quilômetros para fora da cidade. Segundo a lenda, no século 4, um monge errante foi atraído para Mogao por uma visão de luzes piscando. Acreditando que o lugar era sagrado, ele cavou uma caverna do penhasco e permaneceu lá.
Outros monges vieram. Mais cavernas foram escavadas para servirem de templos e salas de meditação, e suas paredes foram cobertas com pinturas. Esculturas do Buda, algumas muito grandes, foram esculpidas e pintadas para criar ambientes decorativos. O local se tornou um ímã para peregrinações, e um importante centro de aprendizagem com uma vasta biblioteca de manuscritos reunidos da China imperial até o leste, e da Índia até o oeste.
Foi apenas muito tempo depois, em 1940, que a China decidiu recuperar a cavernas e começou a restaurá-las. Com o tempo, sua mística aumentou. Em 1979, o ano em que foram abertas ao público, 20 mil visitantes vieram. Até o final dos anos 2000, a contagem anual subiu para 800 mil. A esta altura, a ameaça de danos às pinturas, através da exposição da humidade gerada pelo ser humano e dióxido de carbono, tornou-se grave. Hoje, quase todas as cavernas estão fechadas.
Para preservar Mogao tanto como uma obra de arte quanto objetivo turístico, os arqueólogos responsáveis pelo local apresentaram uma proposta ao governo chinês para criar um centro de visitantes que iria permitir com que as pessoas visitassem as cavernas com acesso mínimo. O plano foi aprovado. O centro de visitantes, projetado pelo arquiteto Cui Kai Pequim como um grupo de cúpulas futurísticas, abrirá este ano.
A operação será cuidadosamente regulada. Visitantes virão para o centro, assistirão um curta-metragem sobre a história da Rota da Seda de Dunhuang, e depois terão acesso a projeções digitais de vários dos interiores das cavernas mais elaborados. Eles, então, irão de ônibus para Mogao, onde verão diversas cavernas reais e passarão um tempo em um museu de artefatos de Mogao - esculturas portáteis, têxteis, pergaminhos manuscritos - antes de voltarem para o centro.
Uma seleção de tais objetos estará disponível na Galeria Institucional da China em Manhattan, Nova York que começara no dia 19 de abril para lançar "O Ano de Dunhuang", uma série de eventos voltados para atrair a atenção do Ocidente, e de doações. Dos US$ 52 milhões que o centro deverá custar, US$ 33 milhões é do governo chinês, o resto deverá ser arrecadado de forma independente.
Este projeto não é o único exemplo de conservação auxiliada pela tecnologia na China. Um semelhante foi documentado em uma exibição chamada de "Ecos do Passado: As Cavernas Templos budistas de Xiangtangshan", que foi organizada pelo Museu de Arte Inteligente em Chicago em 2010. Mas Dunhuang ocupa um lugar especial no imaginário cultural da China. Cuidar delas é podercorrer atrás da negligência do passado. E talvez ainda mais importante é a experiência de poder presenciar a arte dessas cavernas a beira do deserto.
Será que essa experiência será tão intensa com uma intervenção digital? E se for o caso, quanto dessa intervenção é aceitável? Nas questões de cultura contemporânea, a China está se fazendo perguntas, tanto sobre a natureza da arte quanto da função dos museus, que nós ocidentais raramente consideramos. Mas com a falta de dinheiro para ser investido em nossas próprias instituições culturais, com museus como resultado da vaidade de bilionários também em alta no ocidente, e com um público viciado em ver a arte através de telas de celulares, a curva de aprendizagem da China em relação a seus museus, tem muito que nos ensinar também.
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