POR FRANCISCO EDSON ALVES
Rio - No próximo dia 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura, o Rio vai ganhar um reforço de peso na cultura e religiosidade afro: a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, no Centro, vai reabrir o Museu do Negro.
Quase todo destruído por um incêndio em 1967, o espaço está sendo revitalizado e ampliado por voluntários, estudantes de História da Universidade Estácio de Sá e pela Organização Cultural Remanescentes de Tia Ciata. “Como Fênix (pássaro da mitologia grega), estamos renascendo mais uma vez das cinzas”, diz, orgulhoso, o provedor da igreja, Carlos Alberto Guimarães da Silva, 72 anos.
O sacristão Anderson Ribeiro, que teve a ideia de reabrir o local,
destruído num incêndio em 1967, para visitação pública.
A igreja era ponto de encontro de abolicionistas
| Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
O mutirão para reabrir o museu começou em janeiro, de acordo com Gracy Mary Moreira, curadora do museu. Ela é bisneta da Tia Ciata, como era conhecida Hilária Batista de Almeida, cozinheira e mãe de santo famosa, tida como uma das precursoras do samba carioca. Ciata nasceu em Salvador, em 1854, e morreu no Rio em 1924.
“ O público terá muitas surpresas. Resgatamos e recebemos doações de peças históricas, relíquias de passagens da História que muitos historiadores ignoram. Desde os primeiros movimentos pela liberdade à devoção pelos nossos santos e heróis negros”, conta Gracy, emocionada.
“Estava tudo encaixotado e jogado pelo chão. Tínhamos que recuperar essas maravilhas”, comenta o sacristão Anderson Ribeiro, 33, que teve a ideia de recuperar o museu.
Gracy ressalta que revitalização completa do museu, cujas paredes ainda precisam de restauração, se dará até o final do ano. “Deveremos montar um café literário. Temos centenas de obras raríssimas, como escritos de 1572 de Luiz Vaz de Camões, considerado o maior poeta da língua portuguesa”.
No Museu do Negro, também haverá exposições, saraus e videoteca.
Presente que repete o passado
O museu fica no segundo andar da igreja, de 1701, num corredor que servia de rota de fuga para os escravos, que iam aos cultos assistidos por negros alforriados. Quando capatazes chegavam, eles fugiam por ali. “Como acontece hoje, nos becos e vielas do Saara, a poucos metros daqui. Agora, os ambulantes é que fogem do ‘rapa’ (guardas)”, compara o padre José Carlos dos Passos.
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