24/06/2010

Denúncia - Museu do Gás

Extra!Extra!
Museólogo faz denúncia sobre O ABANDONO DO MUSEU DO GÁS.
Museólogos(as) de todo mundo, uni-vos!

Museu do Gás - apogeu e decadência.

O Museu do Gás foi criado em 1985 para mostrar ao público um pouco da história do fornecimento e consumo de gás, salientando sua importância no desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro.

Originalmente instalado à rua Jornalista Orlando Dantas 44 em Botafogo, foi este transferido no início da década de 90 para o secular prédio da Avenida Presidente Vargas 2610, que até 1995 recebeu uma cuidaosa intervençao de restauro, não só na fachada, mas sobretudo em seu interior, devolvendo ao prédio neoclássico, uma aparência até então desconhecida por todos que ali trabalhavam, pois muitas paredes e divisórias, quando foram retiradas, puseram à tona arcos plenos que estavam há anos, emparedados.

Após o término do restauro do andar térreo, o museu sob a suervisão da museóloga Clarice Girafa, começou a ser montado com a minha ajuda, sendo na época ainda um estagiário. Seu acervo é composto por medidores de gás, aquecedores, bicos de gás, luminárias, além de móveis, relógios de parede, telefones e dois dioramas que reproduzem o ambiente doméstico transformado com o advento do gás na vida das pessoas em suas cozinhas e banheiros.

Todavia duas peças merecem atenção especial: a única vara de acender lampiões a gás existente no país, que fazia parte de um diorama com um manequim vestido a caráter como Acendedor de Lampiões, e o único documento existente com a assinatura do Barão de Mauá, o construtor da primeira fábrica de gás do Brasil, ou seja, daquele prédio mesmo, isso no distante ano de 1854...

Mas tudo isso está prestes a sumir, acabar, virar algo volátil e invisível, como o gás. Externamente, a aparência do edifício que miraculosamente ainda sustenta as letras que compõem a frase EX FUMO DARE LUCEM - do fumo a luz - obra de intensa pesquisa, e que foram recolocadas em 1995, pois assim existia à época de sua inaguração, demonstra claramente que em seu interior a deterioração é mais grave do que se pensa. O relógio da torre, que é de 1889, está parado. As paredes externas estão sujas e completamente pichadas. Um das janelas falsas do térreo, que foram recolocadas nas obras de 1995, já foi roubada. Agora o interior é realmente algo muito, muito pior, pois com alguma dificuldade vi pelos vidros sujíssimos das janelas que todo o acervo corre grave risco de sumir. Em todas as paredes veem-se muitas inflitrações. Pelas manchas, a água da chuva deve descer intensamente sobre o acervo. O diorama do acendedor de gás está em ruínas com o lampião e os manequins desmantelados no chão. O documento do Barão de Mauá, talvez pelo cubo de vidro que o está protegendo, ainda esteja razoavelmente intacto. A viatura da Société Anonyme du Gaz está com os pneus furados. Objetos do acervo estão entulhados nos cantos, onde muita sujeira e umidade, o que deve atrair todo o tipo de insetos, talvez até mesmo ratos, poe em risco toda uma memória do tempo em que os serviços de luz, gás, telefone e força eram geridos por apenas uma companhia.

Infelizmente esse é um péssimo exemplo de TOTAL descaso com nossa memória,pois a alguns metros dali, o Museu da Light, co-irmã em termos de acervo, é em opsição a este museu, um sucesso que deveria, pelo menos, servir como exemplo.

Cláudio Lacerda Guerra
Museólogo
COREM: 0722-I

5 comentários:

  1. Constata-se mais uma vez a eterna mania de se criarem alguns museus para depois abandonarem.
    Revoltante. Esperamos que a CEG tome alguma providência urgente.

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  2. Ha cultura, cultura...Os tupiniquins tem mania de fundar museus SEM o engajamento da coletividade SEM apoio academico e infelizmente, esperam que o anjo da providencia se instale e cuide do patrimonio.Qual seria a solução? Já temos a Lei que incentiva descontos em impostos para que comglomerados enviarem recursos para estes patrimonios para mante los!Por que não funciona?Seria talvez porque ao se ter verbas, o poder politico se instaura e loteia areas de atuação , provenientes de cargos e estatus de cabos eleitorais indicados por caciques e partidos, pessoas estas sem o devido conhecimento e responsabilidade para se situar como guardião cultural daquele pequeno nicho de memoria, tão arduamente instaurado por pessoas que sentem a necessidade vital de mostrar a historia para gerações vindouras?Até quando vamos encarar a cultura como fato politico em vez de fato cultural de formação da consiencia de uma nação? Até quando vamos permitir que pessoas não academicas e indicadas por situações de politica momentânea tomem conta de patrimonio cultural? a realidade nos indica que somente quando o museu dá retorno politico é que ele , por curto espaço de tempo, se torna alvo de importância.Lamentável a situação deste museu ,que entre muitos em mesma situação, emboloram no sub mundo da conciência coletiva ,pois não estão inseridas devidamente como patrimonio do cidadão comum.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Gente! Muito triste isso. Hoje vimos documentos do museu do gás sendo vendidos na feira da Praça XV. Estou denunciando, mas acho que muita coisa será perdida.

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  5. Somos um povo sem memória! Talvez nossos pais tenham parcela de culpa por não nos levarmos aos museus mas, que não sirva de desculpa para deixarmos de visitar os que aí estão. Talvez assim despertasse nas autoridades o interesse por essa forma de ensino que são os museus. Depois sempre tem alguém para dizer que a Europa tem muitos museus. Tem! Talvez seja esse um dos pilares da cultura deles. Façamos nascer nas crianças o gosto por esse tipo de passeio e crescerá uma sociedade mais culta.

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