RIO - Quarta-feira, início de uma tarde de verão de mais de 30 graus. Não há ninguém na recepção do Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho, o Castelinho do Flamengo. Depois de alguns minutos, quando chega outro visitante, um funcionário sai da midiateca, onde as paredes e o teto descascados indicam uma infiltração. Na sala de leitura ao lado, há um ar-condicionado, mas ele está quebrado. Apenas uma das salas da exposição "Bonequinhos viajantes" tem refrigeração, e a recepcionista, de volta, enxuga o suor com uma toalha. O ambiente de precariedade se repete, com maior ou menor intensidade, em outros centros culturais da prefeitura, muitos instalados em casas históricas, que tinham tudo para ser convidativas. Sem programação e orçamento fixos, eles não têm identidade. Vivem no improviso, à espera de uma grana, de uma parceria, de um ventilador para atenuar o calor.
As descontinuidades no governo favorecem o abandono. Qualquer planejamento foi suspenso com a posse do novo secretário municipal de Cultura, Emílio Kalil, em dezembro de 2010, substituindo Ana Luisa Lima, que, por sua vez, assumira o lugar de Jandira Feghali, em abril. Procurado pelo GLOBO, Kalil não quis falar sobre a situação dos centros culturais até ter um rumo para eles. Mas não se conhece sequer a programação dos meses iniciais de 2011, que já deveria estar definida antes da posse do secretário. No fim do ano passado, a coordenadora de artes plásticas da secretaria de Cultura, Ana Durães, só sabia informar algumas das possíveis exposições no Centro de Arte Hélio Oiticica, na Praça Tiradentes.
- Temos alguns projetos em andamento: a exposição "Aquarela brasileira", com curadoria do Wilson Lázaro, e uma mostra de artistas valencianos. A do Victor Arruda está em negociação - disse Ana, no fim de dezembro.
Instalado num belo casarão com áreas abertas, atualmente em obras, o Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, em Santa Teresa, também funciona precariamente. A exposição "Abracadabra" reúne peças de arte popular do Museu do Pontal, mas parte do espaço está desocupada. Não há refrigeração - na sala da administração, as portas entreabertas revelam um pré-histórico ventilador de pé servindo a dois funcionários. Mas só há uma mulher em contato com os visitantes. Perguntada se existe algum folheto com informações, ela mostra um papel que traz apenas o nome da exposição.
omo consequência do abandono e da falta de programação regular, os centros culturais municipais têm um baixo número de frequentadores - no Castelinho e no Laurinda Santos Lobos, as funcionárias pedem para que o visitante não se esqueça de assinar o caderno de frequência -, num círculo vicioso que origina mais abandono. No Centro de Arte Hélio Oiticica, na Praça Tiradentes, poucos são os visitantes, apesar de uma exposição de mais qualidade em cartaz, "Geometria impura", uma coletiva de artistas mineiros - cujas obras são preservadas por ar-condicionado. Há apenas uma pessoa na recepção. Nos espaços de exposição, a cadeira de onde alguém deveria supervisionar as obras ou orientar os visitantes está vazia. Supõe-se que há um café no centro cultural, pelas mesas e cadeiras vistas por uma porta de vidro, mas ele está fechado.
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