Não é de hoje que a história da arte está cheia de pornografia nu artístico. Afinal, o artista que se dedicava tanto a estudar a anatomia humana não iria estragar todo esse tempo de estudo reproduzindo pessoas com roupa né! Musas obesas volumosas exibindo a sensualidade em uma época em que estria era sinônimo de beleza.
Até aí é uma coisa, mas agora imagina você ir a museu de arte cheio de "Madonas isso", "Afrodite aquilo", "Cupido em sei lá o que", ou seja, um monte de entidades mitológicas (ou não) nuas, você olha pro lado e tem um espectador(a) do jeitinho em que veio ao mundo. Eu sinceramente iria curtir.
Em 2005 o Leopold, principal museu de Viena, permitiu a entrada gratuita de pessoas nuas ou com roupa de banho. Era um convite para uma exposição de arte erótica, aproveitando o forte calor (em torno de 30 graus) na capital austríaca. Achei a ideia genial uma vez que o que está sendo exposto no museu é a nudez, não teria melhor forma de fazer o público interagir com as obras (que em exposições do gênero essa interação fica sujeita apenas a apreciação) do que convidá-los a expor sua própria nudez! Além de atrair o público que nesta época do ano na Austria preferem as praias.
A exposição, intitulada "A verdade nua: Klimt, Schiele, Kojoschka e outros escândalos", que em sí já é bastante convidativo (ou assustador dependendo do público) e mostrava retratos nus que estes artistas tinham produzido.
Segundo os organizadores do museu, a exposição já atraiu cerca de 70 mil visitantes. Nus ou vestindo apenas roupas íntimas, homens e mulheres andaram pelos corredores dos museus, sem demonstrar nenhuma inibição com a presença de fotógrafos, sob os holofotes de equipes de TV.
Parece que na Austrália aconteceu algo semelhante recentemente. Recebi este texto por e-mail e não encontrei a referência na internet para apresentar a vocês. Enquanto você vai lendo o texto abaixo vai pensando: será que alguma instituição brasileira poderia tomar iniciativa semelhante? Você iria?
Segue o texto:
POR MARL WHITTAKER
SYDNEY, Austrália -
As pessoas reunidas para percorrer o Museum of Contemporary Art Australia sorriram, constrangidas -estavam prestes a tirar suas roupas em público.
O artista que comandava a visitação, Stuart Ringholt, de roupas pretas gastas e um chapéu disforme, deu um passo à frente. "Quem daqui faz parte da comunidade naturista?", indagou.
Alguns homens mais velhos e encorpados ergueram as mãos.
"Quem está nervoso?"
Cerca de uma dúzia de outras pessoas, incluindo este repórter, conseguiram levantar as mãos timidamente. Os visitantes estavam no museu, após o horário de funcionamento normal, para fazer uma visita às obras do museu na companhia de Ringholt, nu. Havia uma exigência específica para a visita: "Quem quiser participar da visitação também precisa estar nu. Adultos apenas."
Ringholt, 40, é um artista conceitual e performático citado recentemente pelo jornal australiano "The Age" como um dos dez "artistas australianos de importância". No último ano, ele comandou três visitações desse tipo em três outras cidades australianas, de modo que pôde fazer algumas previsões sobre a experiência que estava por vir.
"É muito belo", disse às pessoas reunidas. "Quando estamos vestidos, somos sexualizados. Sem roupas, não somos."
Então, ele conduziu os 32 homens e 16 mulheres para uma sala fortemente iluminada, onde as roupas pareceram cair sozinhas dos corpos das pessoas. "Todo o mundo pareceu muito concentrado sobre o que estava fazendo", recordou mais tarde Lance Barton, funcionário de escritório, de 57 anos, que estava fazendo sua estreia como naturista.
A primeira escala na visitação foi diante de uma obra de 2007 da artista escocesa Katie Paterson, "Earth-Moon-Earth": um pianista tocando uma versão da sonata "Ao Luar", de Beethoven, com os erros ocorridos no processo de converter a música em código Morse, transmitir os sinais para a Lua e depois reconvertê-los em notas musicais.
Contra esse pano de fundo fantasmagórico, Ringholt chamou a atenção para o fato de que os museus modernos minimalizam a arquitetura, os tapetes, as janelas e os enfeites para dar mais visibilidade às obras de arte que devem ser o maior destaque, e que, nesse mesmo veio, desde os anos 1980 os artistas contemporâneos aderiram às roupas pretas.
"Há um processo de redução em curso", disse ele. "Formulei uma pergunta: por que a comunidade artística contemporânea se limitava a trajar preto. Por que não reduzir mais ainda e tirar todas as roupas dos visitantes?"
A parada seguinte foi diante de um trabalho de Stephen Birch de 2005, sem título, em que o Homem Aranha encara uma figura fálica primitiva. Ringholt falou do medo e a maioria dos visitantes concordou que sua ansiedade já tinha diminuído.
Sendo artista performático, Ringholt converteu a vergonha em arte. Ele foi ao Palazzo Vecchio em Florença e ficou 20 minutos em pé diante da fonte de mármore com papel higiênico saindo de suas calças. Passou um dia andando em Basileia, na Suíça, com uma prótese nasal da qual escorria uma meleca postiça.
"Tentei entender como o medo se manifesta no corpo e nos debilita", explicou.
O fato de saber que esses atos de abjeção eram performances não os tornou mais fáceis e ele acrescentou: "Foi igualmente ruim. Você fica com ataques de pânico, com suores gelados. Percebi que era o mesmo medo que eu sentia quando telefonava a uma mulher para convidá-la para sair."
Ringholt contou que, com o tempo, aprendeu a dominar seu medo; para isso, foi preciso entender o medo. Ele telefonou à mulher, marcou um encontro e levou seus workshops de medo para a estrada. O processo acabou levando às visitações de museus ao natural.
Quanto aos participantes no evento, estavam divididos quanto à questão de se a arte é intensificada quando o espectador que a vê está nu.
"Não realmente", opinou Barton.
Mas outra participante, Tracey, que não quis revelar seu sobrenome porque trabalha para "uma organização cristã", disse que o nudismo do espectador "intensifica o foco sobre a arte".
Alguns homens mais velhos e encorpados ergueram as mãos.
"Quem está nervoso?"
Cerca de uma dúzia de outras pessoas, incluindo este repórter, conseguiram levantar as mãos timidamente. Os visitantes estavam no museu, após o horário de funcionamento normal, para fazer uma visita às obras do museu na companhia de Ringholt, nu. Havia uma exigência específica para a visita: "Quem quiser participar da visitação também precisa estar nu. Adultos apenas."
Ringholt, 40, é um artista conceitual e performático citado recentemente pelo jornal australiano "The Age" como um dos dez "artistas australianos de importância". No último ano, ele comandou três visitações desse tipo em três outras cidades australianas, de modo que pôde fazer algumas previsões sobre a experiência que estava por vir.
"É muito belo", disse às pessoas reunidas. "Quando estamos vestidos, somos sexualizados. Sem roupas, não somos."
Então, ele conduziu os 32 homens e 16 mulheres para uma sala fortemente iluminada, onde as roupas pareceram cair sozinhas dos corpos das pessoas. "Todo o mundo pareceu muito concentrado sobre o que estava fazendo", recordou mais tarde Lance Barton, funcionário de escritório, de 57 anos, que estava fazendo sua estreia como naturista.
A primeira escala na visitação foi diante de uma obra de 2007 da artista escocesa Katie Paterson, "Earth-Moon-Earth": um pianista tocando uma versão da sonata "Ao Luar", de Beethoven, com os erros ocorridos no processo de converter a música em código Morse, transmitir os sinais para a Lua e depois reconvertê-los em notas musicais.
Contra esse pano de fundo fantasmagórico, Ringholt chamou a atenção para o fato de que os museus modernos minimalizam a arquitetura, os tapetes, as janelas e os enfeites para dar mais visibilidade às obras de arte que devem ser o maior destaque, e que, nesse mesmo veio, desde os anos 1980 os artistas contemporâneos aderiram às roupas pretas.
"Há um processo de redução em curso", disse ele. "Formulei uma pergunta: por que a comunidade artística contemporânea se limitava a trajar preto. Por que não reduzir mais ainda e tirar todas as roupas dos visitantes?"
A parada seguinte foi diante de um trabalho de Stephen Birch de 2005, sem título, em que o Homem Aranha encara uma figura fálica primitiva. Ringholt falou do medo e a maioria dos visitantes concordou que sua ansiedade já tinha diminuído.
Sendo artista performático, Ringholt converteu a vergonha em arte. Ele foi ao Palazzo Vecchio em Florença e ficou 20 minutos em pé diante da fonte de mármore com papel higiênico saindo de suas calças. Passou um dia andando em Basileia, na Suíça, com uma prótese nasal da qual escorria uma meleca postiça.
"Tentei entender como o medo se manifesta no corpo e nos debilita", explicou.
O fato de saber que esses atos de abjeção eram performances não os tornou mais fáceis e ele acrescentou: "Foi igualmente ruim. Você fica com ataques de pânico, com suores gelados. Percebi que era o mesmo medo que eu sentia quando telefonava a uma mulher para convidá-la para sair."
Ringholt contou que, com o tempo, aprendeu a dominar seu medo; para isso, foi preciso entender o medo. Ele telefonou à mulher, marcou um encontro e levou seus workshops de medo para a estrada. O processo acabou levando às visitações de museus ao natural.
Quanto aos participantes no evento, estavam divididos quanto à questão de se a arte é intensificada quando o espectador que a vê está nu.
"Não realmente", opinou Barton.
Mas outra participante, Tracey, que não quis revelar seu sobrenome porque trabalha para "uma organização cristã", disse que o nudismo do espectador "intensifica o foco sobre a arte".
Notícia na Folha de São Paulo sobre o Museu Austríaco: http://www1.folha.uol.com.br/folha/turismo/noticias/ult338u5154.shtml
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