08/11/2012

Microsoft vai ter sede no Rio de Janeiro já em 2013. E será no Museu do Gás.

No Globo de hoje uma reportagem assinada por Mônica Tavares e Isabela Bastos trás a notícia de que a Microsoft irá investir 200 milhões no Rio de Janeiro para o ano de 2013. Dentre estes investimentos, estão a criação de um Laboratório de Tecnologia Avançada (ATL), considerado até então o quarto maior do mundo, a fundação de uma aceleradora de negócios focada em grupos emergentes com base tecnológica, um centro de desenvolvimento do Bing ( sua plataforma de busca semelhante ao Google) e uma empresa de investimentos.

Tudo estaria as mil maravilhas, se não fosse o local escolhido para a sede de tudo isso. A CEG! No dia 24-06-2010 anunciamos aqui uma carta do museólogo Cláudio Lacerda sobre o abandono do prédio desde 1995!!! Na época a carta circulou a internet de página em página de museólogos e profissionais da memória e alguma discussão foi feita a esse respeito. Mas parece que o abandono.



Um dos trechos da reportagem, mostra que parte do projeto inclui a Universidade Estácio de Sá, mas que a sede definitiva será o prédio construído pelo Barão de Mauá.
Os projetos vão funcionar inicialmente numa área cedida pela Universidade Estácio de Sá. A sede definitiva será no edifício Barão de Mauá, que será restaurado pela Microsoft. As obras do prédio onde funcionou a primeira fábrica de gás do Rio, criada pelo Barão de Mauá, deverão estar concluídas em dezembro de 2013, segundo o protocolo de intenções assinado entre Microsoft e a prefeitura do Rio. (O Globo,  08-11-2012)

Abaixo copiei e colei na íntegra a carta escrita pelo Museólogo que explica bem os acontecidos naquele momento.

Extra!Extra! Museólogo faz denúncia sobre O ABANDONO DO MUSEU DO GÁS. Museólogos(as) de todo mundo, uni-vos!

Museu do Gás - apogeu e decadência.

O Museu do Gás foi criado em 1985 para mostrar ao público um pouco da história do fornecimento e consumo de gás, salientando sua importância no desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro.

Originalmente instalado à rua Jornalista Orlando Dantas 44 em Botafogo, foi este transferido no início da década de 90 para o secular prédio da Avenida Presidente Vargas 2610, que até 1995 recebeu uma cuidaosa intervençao de restauro, não só na fachada, mas sobretudo em seu interior, devolvendo ao prédio neoclássico, uma aparência até então desconhecida por todos que ali trabalhavam, pois muitas paredes e divisórias, quando foram retiradas, puseram à tona arcos plenos que estavam há anos, emparedados.

Após o término do restauro do andar térreo, o museu sob a suervisão da museóloga Clarice Girafa, começou a ser montado com a minha ajuda, sendo na época ainda um estagiário. Seu acervo é composto por medidores de gás, aquecedores, bicos de gás, luminárias, além de móveis, relógios de parede, telefones e dois dioramas que reproduzem o ambiente doméstico transformado com o advento do gás na vida das pessoas em suas cozinhas e banheiros.

Todavia duas peças merecem atenção especial: a única vara de acender lampiões a gás existente no país, que fazia parte de um diorama com um manequim vestido a caráter como Acendedor de Lampiões, e o único documento existente com a assinatura do Barão de Mauá, o construtor da primeira fábrica de gás do Brasil, ou seja, daquele prédio mesmo, isso no distante ano de 1854...

Mas tudo isso está prestes a sumir, acabar, virar algo volátil e invisível, como o gás. Externamente, a aparência do edifício que miraculosamente ainda sustenta as letras que compõem a frase EX FUMO DARE LUCEM - do fumo a luz - obra de intensa pesquisa, e que foram recolocadas em 1995, pois assim existia à época de sua inaguração, demonstra claramente que em seu interior a deterioração é mais grave do que se pensa. O relógio da torre, que é de 1889, está parado. As paredes externas estão sujas e completamente pichadas. Um das janelas falsas do térreo, que foram recolocadas nas obras de 1995, já foi roubada. Agora o interior é realmente algo muito, muito pior, pois com alguma dificuldade vi pelos vidros sujíssimos das janelas que todo o acervo corre grave risco de sumir. Em todas as paredes veem-se muitas inflitrações. Pelas manchas, a água da chuva deve descer intensamente sobre o acervo. O diorama do acendedor de gás está em ruínas com o lampião e os manequins desmantelados no chão. O documento do Barão de Mauá, talvez pelo cubo de vidro que o está protegendo, ainda esteja razoavelmente intacto. A viatura da Société Anonyme du Gaz está com os pneus furados. Objetos do acervo estão entulhados nos cantos, onde muita sujeira e umidade, o que deve atrair todo o tipo de insetos, talvez até mesmo ratos, poe em risco toda uma memória do tempo em que os serviços de luz, gás, telefone e força eram geridos por apenas uma companhia.

Infelizmente esse é um péssimo exemplo de TOTAL descaso com nossa memória,pois a alguns metros dali, o Museu da Light, co-irmã em termos de acervo, é em opsição a este museu, um sucesso que deveria, pelo menos, servir como exemplo.

2 comentários:

  1. É DURO UM MUSEÓLOGO VER TODO O SEU TRABALHO IR PRO ESPAÇO, POR MOTIVOS POLITIQUEIROS.

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  2. O completo silêncio das autoridades e da sociedade civil sobre a cessão da fábrica de gás à pobre Microsoft tem me deixado estupefato. Há algumas semanas venho tentando provocar o debate em alguns blogs pertinentes, mas não recebo uma resposta sequer. Já enviei e-mail para a vereadora Sonia Rabello, sempre engajada na defesa do patrimônio cultural, já escrevi em seu blog, e nenhuma reação de parte alguma. Não acham que o caso merece, no mínimo, ser mais debatido e, quem sabe, tornar-se um protesto pra quem quer aquele patrimônio para o público carioca e brasileiro e não restrito a meia dúzia de funcionários da transnacional?

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