16/02/2010

Exposição do Museu de Sexo

Camisinhas são tema de exposição

No século 18, Casanova se referia a camisinhas como “sobrecasacas inglesas”, e fez uso do “pequeno saco preventivo inventado pelos britânicos”.

Em 1709, o jornal inglês The Tatler fez alusão à suposta invenção de um médico cujo nome teria sido usado para o preservativo. Mas, pelo que se sabe, não existiu nenhum dr.

Condom (camisinha, em inglês), e ninguém sabe realmente quem as criou (ou as nomeou), uma vez que bexigas, membranas animais, portaespadas e gaze para ferimentos foram usados para sexo seguro ao longo da história.

A camisinha é tão popular e importante que virou tema da nova exposição do Museu do Sexo em Nova York, Rubbers: ahe life, history & struggle of the condom ( C a m isinhas: a vida, a história e a luta do preservativo, em tradução literal). A curadora do museu, Sarah Forbes, reuniu caixas de camisinhas e máquinas que vendem o preservativo, fotos horríveis de doenças e artifícios de controle de natalidade, vídeos do exército americano e um vestido feito de camisinhas pintadas, comerciais de televisão e obras de arte, criando uma exposição modesta, mas que eleva o status da camisinha.

Além disso, a exposição estimula explicitamente o uso do preservativo para prevenir a disseminação do HIV e da Aids.

Não causa surpresa o fato de a fabricante de camisinhas Trojan ter se tornado patrocinadora da exposição, apesar de sua presença no local ser limitada, incluindo uma mostra de equipamentos contemporâneos usados para fazer camisinhas (moldes fálicos metálicos que são mergulhados em látex líquido, por exemplo) e um vídeo de testes de laboratório mostrando a elasticidade dos preservativos.

A evolução da camisinha é contada brevemente, mas inclui a descoberta de Charles Goodyear de um tratamento para borracha que retinha a flexibilidade; e uma fotografia de um porta-espada reusável bem preservado de meados do século 20 em Londres. Na Alemanha, as camisinhas são chamadas, em termos coloquiais, de fromms, porque foi o nome do fabricante judeu que, antes de os nazistas chegarem ao poder, vendeu 50 milhões de camisinhas por ano. As camisinhas também eram embaladas com pedaços de papel que poderiam ser discretamente entregues ao farmacêutico, pedindo o produto.

Mas Julius Fromm teve de fugir para Lond res e perdeu a fábrica.

Embalagens O fato de elas sugerirem o ato sexual fez, em parte, com que ficassem conhecidas pelas embalagens: uma coleção de caixas vai do antigo exotismo (mostrando camelos do deserto) à contemporaneidade bizarra (retratos de candidatos à última eleição presidencial).

Uma parte de uma farmácia de Nova York tem portas de madeira que convenientemente escondiam os produtos, até que o cliente estivesse preparado para escolher as várias camisinhas de xeque árabe a venda. Camisinhas também acumularam apelidos para esconder a identidade, ao mesmo tempo em que a sugeriam de forma provocativa. Uma parede mostra uma série de apelidos, incluindo chapéu de guarda, meia do amor, pele de sapo e boné noturno.

Existe ainda um lado chocante na exposição. Há antigas fotografias de vítimas de sífilis, incluindo a imagem deprimente de um bebê com a doença, mamando no peito da mãe, também com o problema.

Como as doenças que previnem, as camisinhas também se proliferaram com a movimentação de exércitos. Como destaca a exposição, 18 mil soldados americanos por dia obtinham dispensas por terem doenças venéreas na Segunda Guerra Mundial, inspirandoos EUA a fazerem campanha sobre a transmissão da doença e a distribuir kits para limpeza e proteção de militares.

A reunião repugnante de doenças sexualmente transmissíveis é misturada a uma pesquisa de 2006, na Flórida, envolvendo a comunidade aposentada em que o uso de camisinhas está sendo estimulado devido à disseminação de doenças sexualmente transmissíveis. A cura e a prevenção se tornaram tão rotineiras que elas não atrapalham o prazer.

A última metade da exposição é bem polêmica: a camisinha se torna um instrumento político em debates religiosos e culturais que se estendem há muito tempo. Uma edição de 1915 do livro de Margaret Sanger What every girl should know (O que toda garota deve saber, em tradução literal) está na exposição. O fato de ela defender o controle da natalidade levou a criação da Planned Parenthood, organização que fornece serviços de assistência a mães e crianças.

Há ainda um cartaz de 1989 atacando o papa e a Igreja Católica pelo fato de mostrarem oposição ao uso de camisinhas para controle de natalidade e prevenção de DST.

Possibilidade A disseminação de HIV e Aids na década de 80 do século passado criou outra crise em que anúncios e materiais educativos invocaram morte e doença, assim como alertas sobre DST o fizeram em séculos anteriores.

Mas enquanto a resposta inicial a perigos semelhantes era dura (“Evite prostitutas; mantenha uma mente saudável e um corpo limpo”, dizia filme de 1941 do Exército americano), na exposição a camisinha oferece outra possibilidade: uma série de desenhos de Keith Haring promovem a atividade sexual e a proteção, oferecendo satisfação junto com imunidade.

Essa mensagem é literalmente uma promoção da camisinha, que se torna até uma causa. Esse é o propósito por trás do vestido lilás, criado por Adriana Bertini: ele é feito com 1.200 camisinhas pintadas a mão. Dessa forma, o preservativo não é privado, mas público, não é escondido, mas bastante evidente

“Evite prostitutas: mantenha uma mente saudável e um corpo limpo”, dizia filme de 1941

A disseminação da Aids na década de 80 criou anúncios que invocaram morte e doença

Terça-feira, 16 de Fevereiro de 2010
Edward Rothstein (THE NEW YORK TIMES) no JB (http://jbonline.terra.com.br/leiajb/2010/02/16/primeiro_caderno/camisinhas_sao_tema_de_exposicao.asp)

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