11/01/2012

Bola Preta faz exposição no Largo da Carioca

Um dos blocos de carnaval mais antigos do Rio recupera seu acervo


Ilustração para o livro de Ouro do Cordão da Bola Preta, feita pelo artista Potoca, em 1945.


RIO - Um dos blocos mais tradicionais do Rio, com quase um século de história, o Cordão da Bola Preta está abrindo pela primeira vez seu baú de memórias: uma estante repleta de pastas de recortes de jornal, fotografias antigas, letras de marchinhas censuradas, croquis originais de fantasias e carteirinhas dos sócios (muitas ficavam escondidas no clube, para que as famílias não desconfiassem da boemia do patriarca). Os documentos mais importantes, que contam não só a origem do Bola, mas também a do carnaval da cidade, serão expostos no Largo da Carioca, em mostra que será inaugurada na segunda quinzena deste mês.A exposição resgata os momentos mais significativos da agremiação, fundada no dia 31 de dezembro de 1918.
— Temos muito o que festejar. Estamos conseguindo pagar nossa dívida, os bailes na nova sede são um sucesso, e o Bola é, afinal, o maior bloco de carnaval do mundo — diz um animado Pedro Ernesto Marinho, presidente da agremiação, já antevendo uma polêmica com o bloco Galo da Madrugada, de Recife, que pleiteia o título mundial. — Esta exposição vai mostrar o peso da nossa história.
A recuperação do bloco, a qual se refere o presidente, vem acontecendo há cerca de dois anos. Desde que o Bola Preta perdeu sua sede original, na Rua Treze de Maio, no Centro, por conta de dívidas de condomínio mais feias do que passar o carnaval em casa (algo em torno de R$ 2 milhões, acumulados ao longo de dez anos). Como a necessidade faz o bloco pular, o Bola descobriu dentro da própria estrutura uma maneira de contornar a situação: começou a organizar bailes de pré-carnaval concorridíssimos na nova sede, na Rua do Senado (dizem as boas línguas, muito melhor do que a primeira), e a alugar a tradicional Banda do Bola para festas de casamento. Foi um sucesso.
— Não tem um fim de semana que a banda não tenha apresentação marcada. Assim, vamos conseguir pagar tudo e completar cem anos sem dever nada a ninguém — afirma Pedro. — A exposição será só o início, mas queremos fazer um livro e um documentário.
Era na antiga sede que este arquivo precioso estava esquecido, tomando poeira. Desde 1919, os fundadores do Bola Preta, Caveirinha , Fala Baixo e Chico Brício, tiveram a preocupação de guardar toda informação relacionada ao bloco, como se já soubessem de sua importância no futuro. Com um cuidado que muitos arquivos padecem: cada documento trazia anotado, a lápis, datas e descrições.
— Além do carinho com as informações, chama nossa atenção o apuro que se tinha na época com cada convite de baile à fantasia, cada brasão comemorativo. Eles mandavam fazer ilustrações exclusivas, a bico de pena, e guardavam até os rascunhos. Também fiquei impressionada pela qualidade literária dos textos corriqueiros de informes do bloco e anúncios publicados em jornal — impressiona-se a pesquisadora Elke Gibson, que supervisiona a catalogação do arquivo, trabalho feito num apartamento em Santa Teresa.


http://oglobo.globo.com/cultura/bola-preta-faz-exposicao-no-largo-da-carioca-3540194

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